Nos últimos anos, temos acompanhado quase diariamente ataques e tentativas de destruição das nossas vidas e de nossas instituições no Brasil. Recentemente vivemos uma tragédia que ganhou proporções globais com o assassinato de dois profissionais que dedicaram suas vidas à proteção dos povos indígenas e à divulgação do que acontece em várias áreas do país hoje dominadas pelo crime organizado.

Enquanto cidadãs e cidadãos, professoras e professores, enquanto funcionárias e funcionários públicos deste país, externamos nossa indignação pelo que acontece no cotidiano das nossas vidas, e no dia a dia das/os profissionais que trabalham na Amazônia. Comunicamos, também, nossa extrema preocupação diante das últimas declarações do presidente da República, que se sentiu à vontade para achincalhar nosso sistema eleitoral e ainda de ameaçar a realização do pleito de outubro de 2022 ao declarar ao mundo sua intenção de não aceitar os resultados das urnas, o que nos coloca em situação de medo, de tensão, e, pior, sob censura.

Não podemos ignorar tais ameaças, visto que elas jamais cessaram em quase quatro anos de mandato obtido via eleições realizadas por meio eletrônico que agora parece ser um fato esquecido por conveniência eleitoreira. As ameaças, mesmo constantemente rechaçadas em todos os níveis institucionais e civis, apenas se modificam ao longo dos últimos anos e voltam a nos afrontar com desconfianças infundadas, notícias falsas e ataques que visam à destruição institucional e o acirramento de conflitos.

Nós, antropólogas e antropólogos que atuamos na Amazônia, expressamos que nossas armas são sutis, usamos de letras e não de baionetas, pois somos artífices da palavra oral e escrita na formação de recursos humanos, em defesa de coletivos humanos vulnerabilizados, na construção de conhecimento sobre a floresta e seus povos. Nos pronunciamos sobre a violência, que ganha escala em níveis perversos, ameaçando tirar nosso direito fundamental relativo à escolha dos nossos representantes na próxima eleição. A mera ameaça de não legitimar os eleitos pelo povo é afronta que não se pode tolerar jamais. Basta de desrespeito! Basta de golpismo!

Belém, 21 de julho de 2022

COLEGIADO DO PPGA